AULA 17 - SERMÃO DA MONTANHA
INTRODUÇÃO
A Doutrina Espírita apoia-se na ética cristã, o que significa que os ensinamentos de Jesus são parte de seus alicerces.
As muitas lições de Jesus chegaram até nossos dias pelos Evangelhos, sob diferentes textos e traduções, cujo conhecimento, sintetizado e organizado por Allan Kardec foi estruturado e preservado em sua essência, integrando a obra O Evangelho Segundo o Espiritismo.
No Sermão da Montanha, Jesus define felicidade, explica a sua missão, compara a justiça terrena e a justiça divina, critica a religiosidade meramente exterior e ensina o que é ser santo. Reúne deste modo e de forma sintética o mais expressivo discurso moral já conhecido.
O SERMÃO DA MONTANHA
"Escreveram-se muitos Evangelhos, mas os que chegaram até nós são apenas quatro que se atribuem a Mateus, a Marcos, a Lucas e a João.
A parte principal dos Evangelhos é o Sermão da Montanha que se acha no Evangelho de Mateus. Conta-se que esse Sermão foi pronunciado por Jesus de cima de uma colina, rodeado de grande massa de povo.
O Sermão da Montanha é o fundamento da Moral Cristã e devemos considerá-lo o regulamento que precisamos observar se quisermos caminhar para Deus." (RIGONATTI, 2014, pp. 14-15).
“No Sermão do Monte, segundo a interpretação mais corrente, Jesus colocou a alma do Evangelho. Em todos os livros religiosos ou laicos, nos comentários escritos e nas palestras que se ouve relativas ao Sermão do Monte, transparece sempre o Mestre falando aos homens, demonstrando a existência e a sobrevivência do Espírito após a morte.
Jesus, no entanto, não falou somente aos homens, discípulos ou não, de sua época, mas a todos os Espíritos eternos encarnados e desencarnados. Cabe observar, aos menos afeitos aos ensinamentos dos Espíritos, que as almas depois da morte física do homem não ficam em estado de ‟transe‟, aguardando o Juízo Final, como ensina a Igreja, mas vivem com seu corpo espiritual ou perispírito, agindo com mais liberdade até que os homens, porquanto mantêm todas as faculdades perceptivas de ver, ouvir, falar, sentir etc., praticamente, dentro das mesmas condições morais e intelectuais que se encontravam em „vida‟” (CIAMPONI, 2000, p.17).
“O Sermão do Monte é realmente a alma do Evangelho e nele encontram-se ensinamentos tão atuais, que parecem ditos pelos Espíritos, hoje, dentro da nova visão do Cristianismo redivivo.
Disseram os Espíritos: „É chegado o tempo de substituir a linguagem figurada, falam sem alegorias, dando às coisas um sentido claro e preciso que não possa ser objeto de nenhuma falsa interpretação.‟ (KARDEC, O Livro dos Espíritos, questão nº 1010a)” (CIAMPONI, 2000, p.18).
O Sermão do Monte também conhecido como As Bem-aventuranças, Jesus o proferiu nas encostas de um monte (Cornos de Hattin), perto de Tiberíades (margem oeste do lago de Genesaré) (OLIVEIRA, 2000, p.198).
“A importância de seu conteúdo: muitos consideram este sermão de Jesus como a norma da vida cristã. Certamente, bastaria lhe seguir as recomendações para se alcançar grande evolução espiritual. Nele, Jesus expõe as bases de sua doutrina moral, abrangendo vários temas, de um modo popular, de fácil entendimento” (OLIVEIRA, 2000, p.198).
AS BEM-AVENTURANÇAS
“Bem Aventuranças (em Mateus, cap. 5, vers.1 a 12): assim chamadas por causa da palavra inicial usada por Jesus em todas elas (são 7).
Fazem a relação das qualidades, virtudes ou disposições necessárias para se entrar no reino dos céus. Quem as exercite sem dúvida será bem-aventurado (feliz) pelo resultado que alcançará” (OLIVEIRA, 2000, p.199).
“E vendo Jesus a grande multidão do povo, subiu a um monte e depois de se ter sentado, se chegaram para o pé dele os seus discípulos.
E ele os ensinava dizendo:
-Bem-aventurados os pobres de espírito; porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os mansos; porque eles possuirão a Terra.
Bem-aventurados os que choram; porque eles serão consolados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça; porque eles serão fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos; porque eles alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os limpos de coração; porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados os pacíficos; porque eles serão chamados filhos de Deus.”
(RIGONATTI, p.88)
Em dizendo que o reino dos céus é para os simples, Jesus quer dizer que ninguém é nele admitido sem a simplicidade de coração e humildade de Espírito (KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, c. VII, p.90).
Jesus pôs a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus a Criatura, e o orgulho entre os vícios que Dele o afastam.
“O reino dos céus é dos pobres de espírito, porque Deus não gosta de orgulhosos. Jesus designa por pobres de espírito todos os que não têm orgulho.” (RIGONATTI, p.88).
O Reino de Deus não é necessariamente um lugar especial, mas principalmente um estado de Espírito. À medida que a humanidade consegue superar a condição de orgulho, amealha méritos para viver em mundos mais evoluídos, menos suscetíveis a dores, aos vícios e ao nível de sofrimentos que permeiam a condição terrena.
Bem-aventurados os pobres de espírito: - Pobres de espírito têm a noção de suas fraquezas e mazelas faz lutar por aquilo lhes que falta, e esse redobrar de esforços leva-os realmente a conseguir maior progresso espiritual.
Não tem o orgulho a turvara visão, percebem melhor suas carências.
Bem-aventurados os que tem puro o coração, porque verão a Deus (São Mateus, cap V, v.8)
A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade e exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho; por isso, Jesus toma a infância por emblema dessa pureza, como a tomou para o da humildade Jesus se refere àqueles que se assemelham à pureza de uma criança, que é simples e humilde.
Que não manifestaram nenhuma tendência para o mal e que as experiências de vidas passadas ainda estão adormecidas, por isso o espírito no corpo infantil é dócil. A criança está aberta ao aprendizado, e como símbolo da inocência, da humildade e da simplicidade, as fazem necessitar de cuidados, também pela sua fraqueza corporal assim facilitando as modificações a exercer ações no bem.
Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filho de Deus, (São Mateus. Cap. V. v9)
Por essas máximas, Jesus faz da doçura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência uma Lei; condena, por conseguinte, a violência, a cólera e mesmo toda expressão descortês com respeito ao semelhante.
Bem-aventurados os aqueles que são misericordiosos, porque eles próprios obterão misericórdia.
A misericórdia é o complemento da doçura, porque aquele que não é misericordioso não saberia ser brando e pacífico; ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação, sem grandeza; o esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada que esta acima dos insultos que se lhe pode dirigir; uma é sempre ansiosa, de uma suscetibilidade desconfiada e cheia de fel; a outra é calma, cheia de mansuetude e de caridade.
(...)
Conforme Durval Ciamponi, em Pão Nosso, uma psicografia de Francisco Cândido Xavier, ditada por Emmanuel, grande educador dos homens que analisa as bem-aventuranças diante da realidade da conduta humana.
“Em sua análise, Emmanuel mostra que o título de bem-aventurado exige do homem:
a) Saber aceitar o sacrifício e o sofrimento;
b) Encontrar alegria na simplicidade e na paz;
c) Saber guardar no coração longa e divina esperança.
Essas bem-aventuranças „são um tesouro imenso que poucos compreendem‟.
A maioria dos homens:
a) Quando visitados pela dor, preferem a lamentação e o desespero;
b) Quando convidados ao testemunho de renúncia, resvalam para exigências descabidas e,
c) Ao invés de trabalharem pacificamente, lançam-se a aventuras indignas e se perdem em desmesurada ambição.
Conclui Emmanuel, por isso, que Jesus ofereceu muitas bem-aventuranças, porém, raros desejam-nas. Diz, finalmente, que „existem muitos pobres e muitos aflitos que podem ser grandes necessitados no mundo, mas que ainda não são benditos no Céu‟”(CIAMPONI, 2000, pp.39-40).
INTERPRETAÇÃO DA LEI
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim revogar, mas cumprir”, avisa Jesus, de início, porque sabe que alguns estranharão sua pregação. Em seguida, passa a relembrar ordenações da lei mosaica, confirmando-a basicamente, mas esclarecendo e desenvolvendo o verdadeiro entendimento sobre a vontade de Deus. (OLIVEIRA, p.200)
A NÃO-VIOLÊNCIA
Jesus reafirma o “não matarás”, mas esclarece que qualquer animosidade contra o próximo é prejuízo espiritual; convida à reconciliação com o semelhante, para termos merecimento ante Deus e não nos enlearmos mental e fluidicamente com os adversários (OLIVEIRA, p.200).
Jesus também substitui o antigo princípio do “olho por olho, dente por dente” (vindo da lei de Talião) pela não-violência, não resistência e cooperação voluntária (OLIVEIRA, p.201).
A capacidade de amar é aspecto a ser desenvolvido ao longo do processo de evolução, assim Jesus convida a humanidade a não responder o ato ofensivo e a violência com a mesma reação, mas, ao contrário, ensina o caminho do entendimento, da compreensão e da tolerância, características que permitem ao homem o aprendizado do amor.
O AMOR AO PRÓXIMO
Jesus transforma o “amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo” em amor até aos inimigos, orando por eles e fazendo-lhes o bem possível, para sermos bondosos como Deus o é, e não maus como os que não conhecem a Deus. (OLIVEIRA, p.201).
NÃO BASTA CONHECER, É PRECISO VIVER O ENSINO
Há quem apenas diz “Senhor, Senhor” e em nome de Jesus profetiza (trabalha com a mediunidade), afasta espíritos e produz fenômenos. Mas para que nesta atividade não seja como “casa construída sobre a areia”, é preciso praticar o ensino de Jesus (OLIVEIRA, p.202).
O modo de viver autêntico ou verdadeiro exige nosso empenho constante. Assim, a mensagem de Jesus nos convida a ter fé, a praticar boas obras, respeitando ao próximo e amando a Deus, nessas iniciativas, aplicadas ao nosso dia-a-dia, é que está a solidez que deve edificar nossas convicções em seus ensinamentos.
CONCLUSÃO
As Bem-aventuranças são uma fonte de esperança e consolo para os que sofrem, são a expressão clara das virtudes que o Cristo passa aos homens para que possam trabalhar e melhorar a si próprios.
Disse Mahatma Gandhi a respeito das palavras de Jesus, no Sermão do Monte: “Se fosse possível se perder tudo aquilo que está contido no Evangelho de Jesus, deixando apenas o Sermão do Monte, ele jamais perderia o seu esplendor.”
BIBLIOGRAFIA
CIAMPONI, Durval. Reflexões Sobre as Bem-Aventuranças. São Paulo: FEESP, 2ª ed., 2000.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Curso de Aprendizes do Evangelho - 1°
ano. São Paulo: FEESP, 5ª ed., 1998.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: CELD, 2008.
OLIVEIRA, Therezinha. Estudos Espíritas do Evangelho - Coleção: Estudos e Cursos. Campinas-
SP: CEAK, 4ª ed., 2000.
RIGONATTI, Eliseu. Cinquenta e Duas Lições de Catecismo Espírita. São Paulo: Pensamento,
10ª ed., 2008.
No Sermão da Montanha, Jesus define felicidade, explica a sua missão, compara a justiça terrena e a justiça divina, critica a religiosidade meramente exterior e ensina o que é ser santo.